Este post foi escrito em co-autoria com Laure Haak, Diretora Executiva da ORCID
A pesquisa brasileira está se tornando mais visível internacionalmente. O número de artigos publicados aumentou substancialmente, com um crescimento médio de 10,7% ao ano, taxa cinco vezes superior à média mundial, levando o país para o top 15 em termos de produtividade em pesquisa. Grande parte desse crescimento pode ser atribuído a políticas e programas governamentais inovadores, que apoiam tanto projetos de pesquisa, quanto a infraestrutura de informação necessária para a colaboração e a disseminação de resultados. Neste artigo descrevemos o lançamento do Consórcio Brasileiro ORCID no contexto da liderança brasileira em pesquisa aberta.
- O Consórcio Brasileiro ORCID
- Iniciativas-chave brasileiras
- Infraestrutura tecnológica
- Objetivo internacional
- O que vem por aí?
- Mais informação
O Consórcio Brasileiro ORCID
Entre as organizações responsáveis pelo apoio ao crescimento da pesquisa brasileira e sua visibilidade internacional estão os membros fundadores e organizações líderes do Consórcio Brasileiro ORCID, oficialmente lançado em maio, na CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa – CONFAP, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT, Scientific Electronic Library Online – SciELO e Rede Nacional de Ensino e Pesquisa – RNP. Os eslides do evento de lançamento estão disponíveis na página da CAPES.
Iniciativas-chave brasileiras
As organizações no Consórcio ORCID estão todas liderando iniciativas-chave em informação, incluindo:
- Plataformas SciELO e Portal de Periódicos Cape. Nos últimos 15 anos, a comunidade científica brasileira tem acesso à melhor informação científica disponível no Brasil e no mundo, da maneira mais ampla e aberta. Em um país com dimensões continentais e grandes desigualdades, esse amplo acesso ao texto completo é fundamental para a produção de pesquisas de alta qualidade.
- Plataforma Lattes do CNPq. Este foi o primeiro sistema nacional de perfis de pesquisadores, sobre o qual muitos outros foram modelados internacionalmente. Ter um perfil nessa plataforma é obrigatório para todo pesquisador solicitando um subsídio, tornando este banco de dados extremamente completo e uma ferramenta eficaz de colaboração e avaliação.
- Plataforma Sucupira da CAPES. Os Programas de Pós-Graduação desempenham um papel central na produção de pesquisas de alta qualidade no Brasil. A CAPES avalia esses Programas a cada quatro anos por meio de um sistema muito completo de avaliação, incluindo a ferramenta Sucupira, que recebe contribuições dos currículos Lattes do pesquisador.
- Avaliação Qualis da CAPES e Diretrizes do SciELO. Essas duas iniciativas visam melhorar a qualidade dos periódicos brasileiros, através da orientação aos Editores na implementação de melhores práticas e processos de profissionalização, de acordo com padrões internacionais e de ética na publicação científica. Eles também apoiam a avaliação e indexação de periódicos científicos.
- Programa CAPES Ciência sem Fronteiras. A mobilidade e colaboração dos pesquisadores é um fator-chave da pesquisa produzida em todos os países. Esse programa da CAPES possibilitou que a ciência brasileira fosse mais visível do que nunca nos últimos anos. Não só cientistas brasileiros viajaram para outros países graças ao Programa, mas o Brasil tornou-se mais atraente para pesquisadores estrangeiros, e os resultados dessas colaborações poderão ser vistos nas publicações em co-autoria nos próximos anos.
- RNP CAFe. Pesquisadores são formados e treinados em instituições acadêmicas. A CAFe fornece um sistema nacional de gerenciamento de identidade para instituições de ensino e pesquisa, para que os pesquisadores possam acessar os serviços de sua instituição e de outras organizações participantes de onde quer que estejam. Serviços de ensino à distância, acesso a publicações científicas e atividades colaborativas estão entre os maiores beneficiários da infraestrutura oferecida pelas federações.
Infraestrutura tecnológica
Subjacente a essas políticas e programas está uma infraestrutura tecnológica que dá suporte ao compartilhamento de informações entre sistemas. A CAFe é um exemplo muito claro dessa infraestrutura, permitindo que os usuários acessem informações em vários sites de universidades e institutos de pesquisa com um único nome de usuário e senha. Outro exemplo é o uso de Identificadores de Objetos Digitais (DOIs) na plataforma de publicação SciELO, que permite a fácil resolução do artigo científico, além de garantir a persistência do documento. Mais recentemente, pesquisadores brasileiros também vêm adotando o uso da ORCID, um identificador aberto para indivíduos envolvidos em pesquisa. Mais de 100.000 pesquisadores brasileiros se registraram para uma ORCID iD, e o país possui o sexto maior uso do Registro ORCID, globalmente.
Objetivo internacional
Essas mesmas organizações que apoiaram o surgimento da pesquisa brasileira no cenário global, novamente têm a oportunidade de desempenhar um papel de liderança em pesquisa aberta, desta vez incluindo as IDs ORCID nas infraestruturas de informações de pesquisa nacionais. Agora é possível que os pesquisadores combinem suas ORCID iD com suas credenciais de login da CAFe; e a Unesp, Unicamp e USP iniciaram projetos para integrar as IDs ORCID com sistemas de diretórios universitários – medidas para permitir que universidades compartilhem informações de afiliação para que os pesquisadores possam usar ao submeter um trabalho ou ao pedir subsídio. O SciELO começou a coletar IDs ORCID dos autores usando sua plataforma de publicação, e mais de sessenta revistas brasileiras estão solicitando IDs ORCID dos autores que submetem trabalhos através do SciELO. O CNPq está avaliando como usar a ORCID em seu sistema de CV Lattes. E a CAPES está pensando em como usar a ORCID, incluindo o uso em seus programas internacionais.
A integração da ORCID nos sistemas-chave de publicação, financiamento e de perfis das organizações de ensino e pesquisa brasileiros apoiará os objetivos de pesquisa aberta em escala nacional. Uma abordagem nacional da ORCID oferece outra oportunidade para o Brasil ser líder no cenário mundial, expandindo a adoção nacional da ORCID em todos os setores da comunidade de pesquisa que, até o momento, envolvia principalmente organizações de pesquisa. Uma abordagem intersetorial coordenada permitirá a interoperabilidade e o compartilhamento de dados em sistemas de informações de pesquisa, melhorando a qualidade dos dados, a possibilidade de serem acessados em escala nacional, e reduzindo a carga de pesquisadores e administradores no gerenciamento de currículos e relatórios de resultados de pesquisa.
Nesse cenário, os pesquisadores brasileiros poderão compartilhar sua ID com sua organização de afiliação (via CAFe) e receber, por sua vez, uma prova eletrônica de afiliação a essa organização (através do diretório da organização), juntamente com o nome e o identificador da organização (OID). Os pesquisadores podem usar essas informações (pessoa/ORCID + afiliação/OID) ao submeter um artigo (via SciELO ou muitas outras plataformas de publicação); e quando o artigo for publicado, receber uma declaração eletrônica de autoria (pessoa/ORCID + documento/DOI + editor/OID), que pode ser facilmente compartilhada com a instituição de origem ou a agência financiadora do pesquisador por meio de uma API. Da mesma forma, o pesquisador pode compartilhar suas informações eletrônicas quando submeter um pedido de subsídio (via CNPq/CAPES), e quando o subsídio for concedido, receber uma declaração eletrônica (pessoa/ORCID + bolsa/DOI + financiadora/OID). Quando um pesquisador interage com sistemas de informações de pesquisa confiáveis, ele tanto inclui verificação nessa conexão quanto reduz o trabalho necessário para que os pesquisadores gerenciem suas informações. Enquanto isso, os pesquisadores controlam quando usam seu ORCID iD e com quem compartilham suas informações.
O que vem por aí?
Seguindo o lançamento do Consórcio brasileiro ORCID, estamos ansiosos para trabalhar com a comunidade de pesquisa brasileira para ajudar a tornar essa visão uma realidade. Parte desse esforço será de garantir que as necessidades da comunidade sejam entendidas, e que os serviços da ORCID sejam usados seguindo as melhores práticas. Algumas organizações – incluindo Unesp, Unicamp, USP, SciELO e Fiocruz já começaram. E há um apoio claro de todos os setores para aumentar a adoção e uso da ORCID no Brasil, como mostram estes comentários de participantes do lançamento:
“Nosso objetivo é mudar a realidade de falta de integração e replicação de informações, e ter sistemas que operem de forma integrada, com o uso de identificadores padrão, diminuindo o trabalho manual e aumentando a qualidade dos dados. No que diz respeito à CAPES, a adoção da ORCID nos sistemas de informação será um ganho importante em agilidade e qualidade. Pretendemos que isso se dê principalmente na Plataforma Sucupira, que registra dados de programas de pós-graduação, em sistemas de concessão de bolsas e fomento e nos sistemas de editais de projetos internacionais. Contudo, isso não representa todo o ‘ecossistema’ de informações em pesquisa. Entendemos ser fundamental a participação de outros atores que detêm informações pertinentes à completude do universo da pesquisa no Brasil. Por isso, a proposta do consórcio.” Talita Moreira, Coordenadora-geral de Atividades de Apoio à Pós-Graduação, Diretoria de Avaliação, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES
“Em minha opinião, o Brasil precisa urgentemente criar mecanismos de maior e melhor conexão com o mundo via processo de internacionalização do seu ensino superior, C,T&I e o meio mais fácil é a integração de bases. A ORCID será um dos mais importantes instrumentos nesse sentido.” Geraldo Nunes Sobrinho, Diretor de Programas e Bolsas no País, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES
“O evento representou uma oportunidade para fortalecer o consórcio de agências nacionais que buscam intensificar a integração de bases de dados. A utilização do ORCID, nesse sentido, é ao mesmo tempo um desafio e um catalisador para a pretendida integração.” José Ricardo de Santana, Diretor de Cooperação Institucional, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq
“A perspectiva de adoção generalizada do ORCID pelos pesquisadores do Brasil contribuirá para maior controle e visibilidade das pesquisas com ganhos para os pesquisadores, instituições e o para o Brasil como um todo. Para os periódicos haverá um aperfeiçoamento do controle de qualidade.” Abel Packer, Diretor do Scientific Library Online, SciELO Brasil
“A iniciativa de aproximação da ORCID, por meio de um consórcio, das principais agências brasileiras de ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico evidencia a maneira como a informação e o acesso a ela deve ser tratado. Estes grandes bancos de dados contendo dados de pesquisadores, suas áreas de atuação, recursos recebidos, publicações, entre outras, representam um patrimônio nacional, o qual deve ser gerido de maneira adequada, para se evitar fraudes e ações anti-éticas, bem como garantir um acesso rápido e seguro, evitando-se retrabalho na hora de preencher enormes formulários. Acreditamos que a ABEC tem o dever de ajudar a construir esta maneira de tratar a informação em nosso século e a ORCID vem para nos dar esta garantia de uniformidade global, aliada à segurança destes dados.” Rui Seabra, Presidente da Associação Brasileira de Editores Científicos, ABEC
“O Consórcio Brasileiro ORCID, além de dar visibilidade internacional à pesquisa, promete efetivar a integração de sistemas de informação acadêmica e científica, iniciativa tão aguardada pelos pesquisadores brasileiros.” Elisabeth Adriana Dudziak, Sistema Integrado de Bibliotecas – DT/SIBi, Universidade de São Paulo, USP
“O evento sobre o Consórcio ORCID foi um sucesso e agregou bastante conhecimento, sobretudo, para para nós, profissionais da informação. O Consórcio será um ganho pesquisa brasileira!” Fabiana de Oliveira Silva, Diretora do Sistema de Bibliotecas, Universidade Federal de Uberlândia, UFU
“O Consórcio Brasileiro ORCID é uma estratégia muito significativa para as ações do CONFAP, junto de nossos parceiros. Agora, estamos ansiosos para consolidar a integração de nossos sistemas nacionais de ciência e tecnologia com o ORCID, dando mais visibilidade à ciência brasileira no cenário global.” Maria Zaira Turchi, Presidente do CONFAP
Mais informação:
- Entrevista da SciELO com Laure Haak, Diretora Executiva da ORCID
- Consórcio brasileiro ORCID: Construindo uma comunidade
- Agentes chave da ciência brasileira são membros fundadores do consórcio e participaram do evento: CAPES, CNPq, IBICT, CONFAP, SCIELO e RNP (Foto: Haydée Vieira – CCS/CAPES)
- Ana Heredia e Talita Moreira, da ORCID e da CAPES, respectivamente (Foto: Laure Haak – ORCID)